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CAR T: perspectivas e desafios

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Apesar dos tratamentos convencionais, cirúrgico, quimioterápico e radioterápico, que já vêm sendo usados há décadas para o tratamento do câncer, ainda serem os pilares essenciais, novas classes de tratamentos surgiram como uma importante inovação para mudar o atual contexto dessa doença em muitos pacientes.

Entre tantos tratamentos inovadores que surgiram na última década, conhecidos como imunoterapia, a chamada terapia com células CAR-T, vem chamando bastante atenção da comunidade médica e científica, no tratamento de leucemias e linfomas.

A denominação “CAR” é um acrônimo em inglês para chimeric antigen receptor (receptor quimérico de antígeno, em português), sendo a letra “T” uma referência ao linfócito T, um tipo de célula do sistema imunológico capaz de reconhecer antígenos existentes na superfície celular de agentes infecciosos, externos ou internos, e de tumores, produzindo anticorpos para combatê-los.
 
Mesmo sendo uma das células mais importantes do nosso sistema imunológico, os linfócitos T podem perder a capacidade de detectar as células neoplásicas. Partindo dessa constatação, o processo de produção das células CAR T se dá pela sua modificação, a fim de que elas possam readquirir a capacidade de reconhecimento das células específicas do câncer e destruí-las.
 
Por meio de um procedimento chamado de aférese (máquina de aférese), que é a separação dos componentes celulares e solúveis do sangue, as células T do paciente são coletadas e, posteriormente, reprogramadas (modificação genética) em laboratório para dar origem às células CAR-T. Após sua modificação, as células CAR-T são multiplicadas até uma dose adequada para o peso do paciente. Por fim, elas são infundidas na circulação sanguínea, dando início ao processo de identificação e destruição de células específicas do câncer, principalmente a leucemia e o linfoma.
 
Os primeiros ensaios clínicos da CAR-T foram realizados nos Estados Unidos, em 2010, e de lá para cá, mais de 10 mil pacientes terminais, em todo o mundo, já foram submetidos ao procedimento e em muitos casos houve a remissão da doença. Apesar de ser uma terapia recente, o conhecimento sobre a ação dos linfócitos T no combate às células tumorais, datam da década de 50, quando foi realizado o primeiro transplante de medula óssea da história.
 
Sobre possíveis efeitos adversos, o que se sabe é que o uso das células CAR-T, em um período de sete dias após a sua infusão, pode ocorrer uma reação inflamatória, o que demonstra que os linfócitos modificados estão se reproduzindo dentro do organismo e induzindo a liberação de substâncias para eliminar o tumor. Além da febre, outros efeitos já foram constatados, como queda da pressão arterial, sintomas neurológicos, logo na primeira semana após a infusão. Apesar da ocorrência desses eventos adversos, é possível controlá-los, desde que o paciente esteja sendo assistido por uma equipe especializada nessa terapia.

No Brasil, com a inauguração do Programa de Terapia Celular do Instituto Butantan, Universidade de São Paulo e Hemocentro de Ribeirão Preto o país entrou para o rol dos países produtores dessas células em grande escala, com vistas a ampliar o acesso à CAR-T, disponibilizando-a no Sistema Único de Saúde (SUS).

Recentemente, mais precisamente desde o dia 15 de março, teve início a inclusão dos candidatos ao estudo clínico de fases 1 e 2 do tratamento com células CAR-T, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP.

Os pacientes que passarão pelo tratamento são acometidos pela leucemia linfoide aguda de células B e linfoma não Hodgkin de células B, e não responderam ou apresentaram o retorno da doença após terem sido tratados pela quimioterapia e transplante de medula.

De acordo com o Dr. Diego Villa Clé, coordenador médico do Hemocentro de Ribeirão Preto, em entrevista à Agência Fapesp, no início serão apenas 4 pacientes, a serem tratados no Hospital das Clínicas da USP em Ribeirão Preto. Os dados obtidos serão submetidos à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para avaliação da segurança. Caso haja êxito, os demais centros envolvidos no estudo poderão começar a tratar outros candidatos, esclareceu Clé.
 
Apesar da sua eficácia, o uso dessa terapia enfrenta alguns desafios, como a Síndrome de Liberação de Citocinas, que gera um processo inflamatório por conta da ativação dos linfócitos T, e a Neurotoxicidade (alterações neurológicas), que podem ser tratados com a administração de imunossupressores.  Outro grande desafio enfrentado por essa terapia, no combate ao câncer, é sua limitação para o tratamento de tumores líquidos, como leucemias, linfomas e mielomas.

Além de ser a única fábrica de células CAR-T da América Latina, o Hemocentro de Ribeirão Preto é uma das poucas no mundo que não pertencem a grandes indústrias farmacêuticas. O Dr. Clé apontou para a necessidade de maiores investimentos no Núcleo de Terapia Celular Avançada de Ribeirão Preto (Nutera-RP) para que se possa aumentar a capacidade de atendimento da demanda.

Os custos dessa terapia também vêm sendo um grande entrave para o eu acesso na rede privada, chegando ao valor de R$ 2 milhões, por paciente, enquanto no SUS, esse valor pode ser reduzido a um sexto desse valor.

 

 

01/04/2024
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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