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Nanopartículas para a cura de tumor

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Estudos realizados por um grupo de pesquisadores do Lineberger Comprehensive Cancer Center, da Universidade da Carolina do Norte (UNC), mostraram que uma nova abordagem terapêutica pode minimizar os efeitos adversos dos tratamentos convencionais de meduloblastoma e aumentar a sobrevivência dos pacientes.

Meduloblastomas são tumores malignos que acometem o cerebelo de crianças e adultos jovens, representando a neoplasia maligna intracraniana infratentorial mais frequente neste grupo etário. Atualmente, o tratamento ocorre por meio de intervenção cirúrgica, radiação cranioespinhal e quimioterapia, com cura estimada em 80% dos pacientes, porém os efeitos são considerados desagradáveis e incapacitantes, dentre eles o comprometimento neurocognitivo, a perda auditiva, a disfunção endócrina e malignidades secundárias. Apesar da elevada porcentagem de cura, há um risco de recorrência após o tratamento, tornando-se incurável.

Além destes tratamentos, podem ser utilizados os chamados inibidores de quinases 4/6 (CDK4/6), dependentes de ciclina. Essas CDKs desempenham papel fundamental na regulação da progressão do ciclo celular, possibilitando a transição entre diferentes fases. Sua ativação depende das ciclinas, proteínas que são sintetizadas e degradadas durante o ciclo celular. Quando as CDKs são inibidas, as células doentes não entram em divisão celular, evitando assim que se proliferem e, portanto, morram, interrompendo o ciclo de crescimento tumoral. Para que isso ocorra, é necessário realizar uma terapia-alvo, conhecida como inibidora de CDK, que impede a atividade de enzimas promotoras de células cancerosas, as CDK 4/6.

Apesar do comprovado potencial terapêutico desses inibidores, os pesquisadores constataram nesse estudo que a recorrência foi um fator limitante. Com o objetivo de contornar essa limitação, a equipe testou uma formulação de nanopartículas do inibidor de CDK4/6, o palbociclibe (POx-Palbo), em camundongos geneticamente modificados para desenvolver meduloblastoma - Sonic Hedgehog (SHH). Essa formulação poderá ser administrada de forma isolada ou com agentes específicos.  

De acordo com o professor e vice-presidente de pesquisa do departamento de neurologia da Faculdade de Medicina da UNC e coautor correspondente do artigo, MD, PhD, Timothy R. Gershon, em entrevista ao portal GEN, a eficácia do palbociclibe, já atestada para o tratamento do câncer de mama, não foi encontrada para o medublastoma, como agente único, devido a dois fatores, a sua insuficiente permanência no cérebro e a resistência que os tumores podem desenvolver ao medicamento. O pesquisador comentou que o estudo foi direcionado para entender a limitação do cérebro, no intuito de desenvolver uma formulação mais eficiente e analisar por qual motivo essa resistência ocorreu, à longo prazo. Os resultados mostraram qual o mecanismo que determinou essa resistência, ou seja, o alvo a ser atingido pela terapia.

Esse mecanismo de resistência foi identificado, graças a análise dos padrões de expressão gênica das células do meduloblastoma que cresceram nos animais tratados com palbociclibe. De acordo com os resultados obtidos, esse mecanismo pode ser um alvo do inibidor de mTOR (do inglês, mammalian target of rapamycin), o sapanisertibe. Segundo os autores, a combinação de palbociclibe e sapanisertibe, entregue em nanopartículas, mostrou maior eficiência do que o uso de ambos, isoladamente.

Os inibidores de mTOR são uma classe de drogas que inibem o alvo mecanístico da rapamicina (mTOR), que é uma proteína quinase específica da serina / treonina que pertence à família das quinases relacionadas à fosfatidilinositol-3 quinase (PI3K) (PIKKs). mTOR é uma proteína com papel central no crescimento, na proliferação e na manutenção das células, que participa da formação de dois complexos, mTORC1 e mTORC2. Os inibidores de mTOR mais estabelecidos são os chamados rapalogs (rapamicina e seus análogos), que mostraram respostas tumorais em ensaios clínicos contra vários tipos de tumor.

A coautora correspondente e professora associada e diretora do Unidade Central de Pesquisa de Nano formulação Translacional na UNC Eshelman School of Pharmacy, PhD, Marina Sokolsky-Papkov, comentou à GEN, que usar as duas substâncias pode ajudar a diminuir a dosagem de radiação, sem aumentar o risco de recorrência e que é preciso a aprovação do uso das nanopartículas em humanos, assim como aumentar a sua produção.

 

14/02/2022
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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