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SARS-CoV-2 e suas variantes

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Eventos pandêmicos de grandes proporções, tais como a gripe espanhola (1918), assim como a mais recente delas, causada pelo vírus da influenza H1N1 (2009), tornaram-se um dos maiores desafios sanitários, tanto para a Organização Mundial da Saúde, quanto para os órgãos governamentais em todo mundo. A grande dificuldade encontrada, se não a maior delas, é a forma como essas doenças são transmitidas, as vias respiratórias, o que dificulta em muito a contenção do organismo causador, nesses casos, um vírus.

 

A pandemia atual é causada pelo coronavírus que pode ser encontrado numa variedade de animais e humanos, cuja família Coronaviridae inclui 4 gêneros, alphacoronavirus, betacoronavirus, gammacoronavirus e deltacoronavirus. Os alfa e betacoronavírus infectam diversas espécies de mamíferos e têm sua origem nos vírus que circulam em morcegos, já os delta e gamacoronavírus são encontrados em aves selvagens e domésticas.

Por meio de análise filogenética do genoma dos coronavírus, foi possível descobrir que o SARS-CoV-2 é um novo membro do gênero betacoronavírus, que inclui a Síndrome de Dificuldade Respiratória Aguda por coronavírus (SARS-CoV), Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS-CoV), coronavírus SARS de morcegos (SARSr-CoV), assim como também outros identificados em seres humanos e em diversas espécies animais.

Os fatores que contribuíram para o aparecimento de novas estirpes do coronavírus foram, a transmissão intra e interespécies e a ocorrência de recombinações e de mutações genéticas, as quais, os vírus estão naturalmente sujeitos. Quando esses eventos acontecem, genes inteiros, segmentos de genes ou mesmo fragmentos genômicos são trocados entre diferentes vírus durante seu ciclo replicativo, quando uma célula é infectada por dois ou mais vírus distintos, podendo até mesmo haver a incorporação de genes celulares ou segmentos destes, aos genomas virais.

Contendo um longo genoma de RNA, além das mutações, esse material genético dos coronavírus apresenta certas regiões genômicas com alta tendência a recombinações, as quais poderão, eventualmente, originar novos vírus. Esses eventos genéticos, podem, ocasionalmente, gerar certas vantagens, quando comparados aos vírus parentais.

Devido a essas possibilidades de modificações genéticas, os cientistas estão monitorando as mudanças no vírus, inclusive as que podem vir a ocorrer, incluindo as mudanças nas proteínas presentes na superfície do vírus, dessa forma será possível entender como as alterações no vírus podem afetar a forma como ele se dissemina, e as consequências nos organismos das pessoas infectadas.

São muitas as variantes do vírus causador da COVID-19 e que estão circulando em todos os continentes, e para facilitar o seu monitoramento, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (HHS  - sigla em inglês) criou o Grupo Interagências SARS-CoV-2 (SARS-CoV Interagency Group - SIG) com o objetivo de aprimorar a coordenação entre o Centro de Prevenção e Controle de Doenças do Estados Unidos (US Centers for Disease Control and Prevention - CDC), o Instituto Nacional de Saúde (National Institutes of Health - NIH), o Food and Drug Administration (FDA), o Biomedical Advanced Research and Development Authority (BARDA) e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (Department of Defense - DoD). A função desse grupo é o de caracterizar, de forma rápida, as variantes emergentes e monitorar seu impacto potencial nas contramedidas médicas do SARS-CoV-2, incluindo vacinas, terapêuticas e diagnósticos.

As variantes que estão causando maiores números de infecções, e que, portanto, têm exigido maior atenção dos pesquisadores, foram estudadas, caracterizadas e separadas em três grupos, segundo as agências norte americanas, como Variantes de Interesse (B.1.526, B.1.525, P.2), de Preocupação (B.1.1.7, P.1, B.1.351, B.1.427, B.1.429) e de Elevada Consequência (B.1.1.7, B.1.351, P.1, B.1.427 e B.1.429).

As variantes são classificadas de acordo com diferentes atributos, tais como a presença de marcadores genéticos específicos associados, capazes de afetar a sua transmissão, dificultar o diagnóstico, a terapêutica ou o escape imunológico.

Além desses atributos, essas variantes podem estar relacionadas ao aumento de casos ou até mesmo ao surgimento de surtos em grupos específicos. Outros fatores de classificação são a sua prevalência e expansão, que pode ser limitada aos EUA ou ocorrer em outros países.

Essas características se destacam com maior evidência em variantes presentes em uma das classificações, nesse caso as Variantes de Interesse, porém não são exclusivas, já que em alguns casos, esses vírus podem apresentar atributos de outras classes.

Em outra classificação, as variantes caracterizam-se por interferirem de forma generalizada com alvos de testes de diagnóstico, além de terem sido encontradas evidências que demonstram haver resistência, consideravelmente aumentada, a uma ou mais classes de terapias.  Outros fatores relevantes dessa classe de variantes, mostram uma redução significativa na sua neutralização por anticorpos, tendo sido esses gerados durante infecção anterior ou por vacinação.

Foram detectadas também reduções na proteção induzida por vacina contra doenças graves. Já os fatores transmissibilidade e gravidade da doença apareceram aumentados. Essas variantes são denominadas de Elevada Consequência, que além dos demais atributos, se caracterizam pelo impacto que causam nas contramedidas médicas.

Outras duas variantes que têm sido foco do monitoramento são a do Reino Unido, VOC 202012/01, envolvendo dezessete mutações associadas à proteína de superfície (spike). Ela já foi encontrada em mais de sessenta países. A outra variante é a da África do Sul, conhecida como 501Y.V2.

No Brasil, de acordo com dados fornecidos até o mês de março pela FIOCRUZ, foram detectadas, as variantes (linhagens) do coronavírus, B.1.1.29; B.1.1.28; B.1.1.33; P.1 (derivada da B.1.1.28 e conhecida como a variante de Manaus); e P.2 (derivada da B.1.1.28 e conhecida como a variante do Rio de Janeiro). Foi identificada também, a variante N9, encontrada originalmente em São Paulo e derivada da linhagem B.1.1.33.

Mais recentemente, o Instituto de Ciências Biológicas (ICB) de Belo Horizonte (MG), coletou amostras clínicas de indivíduos da região metropolitana de Belo Horizonte e por meio do sequenciamento de 85 genomas do SARS-CoV-2, identificou dois novos genomas com uma série de mutações ainda não descritas e que podem caracterizar uma possível nova variante do vírus.

Apesar de todos os esforços que vêm sendo empreendidos até o momento por pesquisadores do mundo todo, muitos estudos ainda serão necessários para que se possa obter mais informações sobre essas novas variantes, no que diz respeito à sua capacidade de expansão territorial, às diferenças de sintomas e sequelas entre essas e as variantes que já estão circulando a mais tempo, à forma como elas podem afetar aos tratamentos, vacinas e testes para detecção.

18/05/2021
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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