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Esquizofrenia e proteínas alteradas

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De acordo com a Organização Mundial da Saúde (World Health Organization - WHO), a esquizofrenia é caracterizada por distorções no pensamento, na percepção, nas emoções, na linguagem, na identificação de si mesmo e no comportamento. São experiências comuns as alucinações pelos sentidos da audição, da visão ou na sensação da existência de coisas que não estão presentes no ambiente.

Segundo informações da WHO, a esquizofrenia afeta mais de 21 milhões de pessoas em todo o mundo, mas não é tão comum como muitos outros transtornos mentais. É mais frequente entre os homens (12 milhões) do que nas mulheres (9 milhões). A esquizofrenia geralmente começa mais cedo entre os homens. Essa doença está associada a uma incapacidade considerável e pode afetar o desempenho educacional e ocupacional. As pessoas com esquizofrenia são 2 à 2,5 vezes mais propensas a morrer precocemente, quando comparadas à população em geral, devido a outras doenças físicas, como as cardiovasculares, metabólicas e infecciosas.

Frente a um quadro tão complexo, físico e socialmente falando, haja vista também o preconceito para com os acometidos por essa patologia, que inúmeras pesquisas vêm sendo realizadas no intuito de buscar a gênese dessa doença. Dentre algumas delas, as que utilizaram técnicas de análise proteômica (proteoma é o conjunto de proteínas produzidas pelas células), baseada em espectrometria de massa, mostraram resultados significativos sobre as disfunções proteicas ligadas à esquizofrenia, citou a pesquisadora da Universidade de Campinas (Unicamp), Verônica Saia Cereda, e autora principal, do estudo intitulado – The Nuclear Proteome of White and Gray Matter from Schizophrenia Postmortem Brains – publicado na edição de agosto da revista Molecular Neuropsychiatry.

Os resultados encontrados na pesquisa chefiada pelo Dr. Daniel Martins de Souza, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp) e coordenador da pesquisa, basearem-se em um amplo estudo do proteoma nuclear dos tecidos do corpo caloso (CC) e do lobo temporal anterior (ATL), do cérebro post mortem.

O CC é a maior via de associação entre os hemisférios cerebrais. É formado por grande número de fibras que cruzam o plano sagital mediano e penetram de cada lado do cérebro unindo áreas simétricas do córtex cerebral de cada hemisfério. Sua função é permitir a transferência de informações entre um hemisfério e outro, fazendo com que eles atuem harmonicamente. O lobo temporal anterior, de acordo com Martins de Souza em entrevista à Agência Fapesp, está envolvido no processamento auditivo e visual e, portanto, tem muita relação com sintomas como psicose e alucinação.

Acreditando que essa patologia pudesse ter origem em uma alteração no mecanismo de processamento do RNA mensageiro (RNAm) em pacientes com esquizofrenia, a equipe de pesquisadores mostrou de forma ampla o papel das proteínas nucleares desreguladas no corpo caloso e no lobo temporal anterior. O processamento do RNAm é conhecido como splicing, o qual consiste na retirada dos íntrons de um RNA precursor, de forma a produzir um RNAm maduro funcional.

As amostras dos tecidos das duas regiões foram obtidas de pacientes esquizofrênicos, com o objetivo de descrever a importância do núcleo no desenvolvimento dessa patologia. De acordo com os dados publicados no artigo, o tecido do corpo caloso é composto, principalmente de células gliais e axônios de neurônios, e o lobo temporal lateral por corpos celulares neuronais.

Por meio das análises realizadas, foram encontradas 224 proteínas presentes em diferentes níveis, sendo que 76 delas eram nucleares. Individualmente, os pesquisadores identificaram no CC 119 proteínas presentes em diferentes níveis, desse total, 24 eram nucleares. Com esses resultados, a equipe de cientistas conseguiu associar as proteínas nucleares do ATL, expressas de forma diferenciada, ao spliceossoma – complexo proteico responsável pelo splicing, já no caso do CC, elas estão vinculadas à sinalização de cálcio - calmodulina. A calmodulina é uma proteína ligadora de cálcio capaz de ativar diferentes moléculas sinalizadoras intracelulares.

O professor do IB, explicou que “uma alteração no sistema de processamento do RNA mensageiro poderia comprometer a expressão de inúmeras proteínas – muitas delas com papel chave em processos biológicos importantes, como o metabolismo de ácidos nucleicos, gerando um efeito cascata, mas que essa hipótese é algo que ainda precisa ser confirmado em estudos futuros”.

25/08/2017
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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