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O papel imunológico das citocinas

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A resposta imune tem papel fundamental na defesa contra agentes infecciosos e se constitui na principal barreira para a ocorrência de infecções causadas por diferentes tipos de organismos patogênicos, muitos deles causadores de altos índices de mortalidade. Já é de conhecimento da ciência que para quase todas as doenças infecciosas, o número de indivíduos expostos à infecção é muito superior ao dos que apresentam doença, mostrando que a maioria das pessoas tem condições de combater esses microrganismos e impedir a progressão da infecção. Por outro lado, as deficiências imunológicas, sejam da imunidade inata ou da imunidade adaptativa, são fortemente associadas ao aumento de susceptibilidade a infecções.

De acordo com o estudo publicado na edição de julho da revista Nature, uma maior ou menor resposta do sistema imunológico está diretamente relacionada a características de cada organismo. O objetivo da pesquisa foi descrever a resposta das citocinas, ao serem induzidas por diferentes agentes patogênicos, e determinar o efeito da variação genética na produção dessas moléculas, em indivíduos saudáveis. As citocinas são um grupo diverso de proteínas e peptídeos solúveis que atuam como reguladores em condições normais e patológicas, a fim de modular as atividades funcionais de células e tecidos. Estas proteínas também mediam interações diretamente entre as células e regulam processos que ocorrem no ambiente extracelular.  

Para tanto, foi traçado um perfil das citocinas produzidas pelas células mononucleares do sangue periférico de 197 indivíduos de origem europeia, dos 200 que participam do 200FG (200 Genômica Funcional), do Projeto Genômica Funcional Humano, obtidos em três anos diferentes.

O projeto 200FG tem como foco caracterizar a interação entre o patrimônio genético de hospedeiros e a resposta imune, e avaliar a consistência dessas respostas. Nele é investigado um grupo de 200 indivíduos saudáveis ​​em três anos diferentes, tendo iniciado seus estudos em 2009, e continuadamente a cada ano.

A pesquisa, que foi conduzida por cientistas dos Centros Médicos das Universidades de Groningen e de Radboud, e da Faculdade de Medicina de Harvard, compararam os perfis de citocinas de bactérias e de fungos induzidos. Eles descobriram que grande parte das respostas das citocinas foram organizadas a partir de uma resposta fisiológica para agentes patogênicos específicos, e não devido a uma via imunitária particular ou a uma citocina.

Partindo desses dados, os pesquisadores correlacionaram os genótipos dos polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs), com grandes quantidades de citocinas, resultando na identificação de seis QTLs de citocinas (QTL - locus de caracteres [A1] quantitativos). 

Dos seis QTLs encontrados, o localizado no locus NAA35-GOLM1, tem produção fortemente modulada pela interleucina (IL)-6, em resposta a diversos patógenos. Além disso, os pesquisadores constataram que há uma associação com a suscetibilidade à candidemia. Eles descobriram também que os QTLs citocinas identificados, eram os mais ativos entre SNPs associados com doenças infecciosas, assim como as do coração.

Baseados nos dados obtidos, a equipe de cientistas concluiu que essas informações revelam e permitem explicar o porquê da variabilidade na produção de citocinas pelas células do sistema imunológico humano, em resposta à diferentes microrganismos patogênicos.

19/07/2016
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG