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Desenvolvendo biossimilares no Brasil

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Os biofármacos são medicamentos que contém moléculas derivadas de um organismo vivo, cuja atividade biológica é conhecida. Essas moléculas podem ser extraídas de microrganismos, órgãos e tecidos de origem vegetal, animal, células ou fluidos de origem humana ou animal, podendo ainda serem obtidas de células geneticamente modificadas para produzir moléculas especificas. Por se tratar de uma molécula obtida de um organismo vivo através da tecnologia do DNA recombinante, moléculas iguais podem ser sintetizadas a partir de processos distintos. Por exemplo, uma mesma molécula pode ser produzida em bactérias ou em plantas (7). Biossimilar é o termo usado para descrever versões posteriores de um biofármaco inovador, após a expiração de sua patente (5). A iminente chegada dos biossimilares tem despertado grande entusiasmo, bem como, a atenção, de diferentes setores do mercado brasileiro. E as perspectivas são grandes.

O sucesso crescente desta categoria de medicamento vem acompanhado pelo desafio da capacidade de sua incorporação pelos sistemas de saúde, público e privado, em todo o mundo. Este tipo de remédio possui um custo unitário muito elevado. Considerando o mercado brasileiro de biológicos, o Ministério da Saúde (MS) é o responsável pela compra de cerca de 60% deste medicamento, tanto utilizados por pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como utilizados por pacientes da rede privada que adquiriram o direito de receber o tratamento através de medidas judiciais. E, apesar de representar apenas em 5% do número total de fármacos comprados, os medicamentos biológicos consomem cerca de 43% do orçamento do Ministério da Saúde (MS,) do total previsto com a aquisição de remédios (4).

Diante deste cenário, em 2012, iniciou-se uma intensa discussão, incentivada pelo Ministério da Saúde, para se produzir medicamentos biológicos em território nacional. Um dos principais objetivos será reduzir os custos desse setor, o que, em primeira instância, pode ter um impacto favorável e importante na acessibilidade e disponibilidade de tratamento no país. Deste incentivo, os laboratórios Aché, EMS, Hypermarcas e União Química formaram a Bionovis (2) e os laboratórios Biolab e Eurofarma formaram a Orygen. Os laboratórios Libbs, Cristália e PharmaPraxis possuem projetos independentes para produção de medicamentos biológicos. A PharmaPraxis irá produzir e comercializar seis produtos biofármacos para o mercado brasileiro, usando o sistema de produção em plantas da PlantForm Corporation, em cooperação com o Centro Fraunhofer de Biologia Molecular de Newark (Delaware, EUA) e a Biomanguinhos (Rio de Janeiro). O primeiro biossimilar a ser produzido pela empresa será o bevacizumab, utilizado na terapia de diversos tipos de câncer. O laboratório Cristalia possui a autorização da ANVISA para produção de trastuzumab, etanercept e somatropina, medicamentos para câncer, artrite reumatoide e psoríase, e hormônio do crescimento humano. A empresa possui ainda uma unidade de produção em sistema de Boas Praticas de Fabricação (BPF) certificada pela a agencia nacional.

Embora exista certo entusiasmo, é preciso muita cautela. Por utilizar um caminho abreviado nas agências reguladoras para a aprovação do uso dos biofármacos, há a necessidade de se incorporar outros parâmetros para sua análise, como qualidade farmacêutica e similaridade, tanto no aspecto molecular, como no aspecto de segurança. Por se tratar de um medicamento biológico, produtos que foram produzidos utilizando técnicas antigas podem apresentar diferenças quando realizadas melhorias no processo de produção. Estas diferenças no processo de produção podem levar a novas modificações, que podem alterar as características do produto final, mesmo sem alterar o principio ativo em si (8).

Apesar de os biossimilares estarem sempre sobre a sombra do paradigma de que são produtos "similares", mas não idênticos aos seus produtos biológicos de referência, as dúvidas e as incerteza sobre eles não diferem das que surgem sobre os biofármacos inovadores. Devido ao fato de os medicamentos biológicos serem complexos, mesmo pequenas modificações no processo de fabricação podem provocar alterações no produto final, e é por isso que o rigor e o controle sobre toda a cadeia de produção deve ser o mesmo para os agentes biológicos originais e para os biossimilares. Entretanto, mesmo que o processo de P&D cumpra todas as exigências das agências regulatórias para a aprovação desta classe de produto, ainda haverá a necessidade de extensos estudos de fase IV, no qual será possível identificar algumas diferenças entre o medicamento referência e o biossimilar que não foram possíveis de identificar nos estudos anteriores, especialmente no que se refere ao uso prolongado desses medicamentos.

O grande desafio da indústria nacional será lidar com os riscos e benefícios inerentes aos biossimilares, ao mesmo tempo promover o desenvolvimento industrial e melhorar o sistema que legisla sobre o seu próprio desenvolvimento.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

1- REIS, C. et al (2010) Biotecnologia para saúde no Brasil. BNDES Setorial. Rio de Janeiro, no 32, p. 193 – 230,

2- http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/principal/agencia-saude/13759-brasil-tera-nova-fabrica-de-medicamentos-biologicos

3- http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,orygen-fecha-parceria-com-pfizer-imp-,1538438

4- http://www.brasil.gov.br/saude/2013/04/r-35-bilhoes-serao-repassados-para-a-aquisicao-de-medicamentos-ate-2016

5- Pharmaceutical biotechnology: fundamentals and applications (2007) - Daan J.A. Crommelin, Robert D. Sindelar, Bernd Meibohm (editors) —3rd edition

6- Crommelin DJ, Storm G, Verrijk R, de Leede L, Jiskoot W, Hennink WE (2003). Shifting paradigms: Biopharmaceuticals versus low molecular weight drugs. Int J Pharm p.266 -316

7- Phillips, T. (2008) Genetically modified organisms (GMOs): Transgenic crops and recombinant DNA technology. Nature Education 1(1):213

8- Ebbers HC, Crow SA, Vulto AG, Schellekens H (2012) Interchangeability, immunogenicity and biosimilars. Nat Biotechnol. Dec;30(12):1186-90

03/02/2015
Georgia Porto - Equipe Biotec AHG
 

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