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Rearranjo cromossômico e o autismo

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Um estudo desenvolvido por pesquisadores do Centro de Estudos do Genoma Humano (CEGH), ligado ao Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), traz novas descobertas sobre os aspectos genéticos do autismo – uma disfunção generalizada do desenvolvimento, isto é, uma alteração que afeta a capacidade de comunicação do indivíduo.

A pesquisa teve como objetivo estudar um grupo de rearranjos cromossômicos aparentemente equilibrados, cujos portadores têm alterações clínicas que levaram à realização do exame cromossômico.

Esses tipos de rearranjos fazem parte das chamadas mutações cromossômicas, que podem ser estruturais ou numéricas. De acordo com a região alterada e a sua extensão, as conseqüências das mutações estruturais são das mais diversas.

Os rearranjos podem ser equilibrados ou não equilibrados. São considerados do tipo equilibrado, quando não existe ganho nem perda de material cromossômico, em quantidade ou qualidade que tenha como conseqüências quadros patológicos. No entanto, quando uma quantidade de material cromossômico anormal está, normalmente, associada a um fenótipo anormal, considera-se o rearranjo não equilibrado.

Na pesquisa realizada pelo CEGH, os pontos de quebra desses rearranjos foram mapeados por hibridação in situ fluorescente (FISH). A busca por microdeleções e duplicações genômicas foi realizada por array-CGH – técnica para detectar variações no número de cópias do genoma, com um elevado nível de resolução.

A partir do uso dessa técnica (array), os cientistas identificaram mais um dos diversos genes relacionados ao distúrbio comportamental, além de uma desordem genética que pode ajudar a explicar a dificuldade que os autistas têm em interagir socialmente. Ao estudar os cromossomos de cerca de 200 pacientes autistas atendidos pelo CEGH, os cientistas conseguiram identificar, em apenas três, uma alteração cromossômica chamada translocação equilibrada, que se caracteriza pela troca entre segmentos cromossômicos sem aparente perda do material genético.

Os pesquisadores observaram, em um dos três pacientes, que essa translocação genética provocou o rompimento do gene TRPC-6 (transient receptor potential cation channel, subfamily C, member 6), que atua em um canal de cálcio no cérebro,  controlando o funcionamento dos neurônios, mais  especificamente  nas  sinapses neuronais.

Em entrevista à Agência FAPESP, a pesquisadora do Centro de Estudos de Genoma Humano da USP, Maria Rita dos Santos e Passos Bueno, comentou que é possível que o desequilíbrio no rearranjo cromossômico dos pacientes com autismo, tenha como conseqüência a diminuição da quantidade da proteína expressa por esse gene, diminuindo o cálcio que é enviado aos neurônios.

A cientista comentou também que essa translocação genética, em que metade do gene TRPC-6, localizado no cromossomo 11, migrou para o 3, aniquilando sua função, é muito rara e dificilmente é encontrada em outros pacientes com autismo, no entanto pode ser encontrada em outro gene, da mesma via de sinalização celular.

O entendimento da relação entre o distúrbio neurológico e as mutações específicas em um ou dois genes relacionados a essa desordem, estão entre os maiores avanços obtidos pelos pesquisadores nos últimos quatro anos. Agora, os pesquisadores pretendem estudar as vias de sinalização celular envolvidas pelos genes relacionados ao autismo, buscando alternativas de tratamento.

03/02/2012
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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