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Células-tronco e a doença de Parkinson

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Caracterizada pela desordem progressiva do movimento, a doença de Parkinson causa a morte dos neurônios secretores de dopamina. Este composto químico é um neurotransmissor, uma substância que pode dar continuidade a um impulso nervoso ou efetuar a reação final no órgão.A dopamina é responsável pelas mensagens entre a substância negra (uma região do mesencéfalo) e outras partes do cérebro que controlam os movimentos musculares.

A sua falta no indivíduo doente causa menor controle da movimentação. Os sintomas da doença de Parkinson começam a aparecer quando 60 a 80% das células que produzem dopamina estão prejudicadas e portanto não geram a quantidade normal do neurotransmissor.

De acordo com a hipótese de Braak, que tenta elucidar os mecanismos que causam a enfermidade, os primeiros sinais da doença aparecem no sistema nervoso entérico (rede de neurônios que integram o sistema digestivo), na medula e no bulbo olfatório, que controla a sensação olfativa. Essa teoria incentiva a busca por sintomas não-motores, como a dificuldade de sentir odores e distúrbios de sono. O objetivo é determinar a doença antes de sua progressão.

 

O efeito dos fibroblastos

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) podem ter encontrado a razão para o atual fracasso de terapias com células-tronco: a presença de fibroblastos nos transplantes dessas células.

Publicado na versão online da revista científica Stem Cell Reviews and Reports, o estudo mostra os efeitos da contaminação por fibroblastos. Na primeira parte dos experimentos, foram administradas células-tronco a um grupo de ratos que apresentava os sintomas da doença de Parkinson. Na segunda parte, um grupo recebeu apenas fibroblastos e outro, uma mistura igual de células-tronco e fibroblastos.

Segundo uma das autoras do artigo, que também coordena o Centro do Genoma Humano da USP, Mayana Zatz, os ratos que receberam somente as células-tronco obteviveram resultados positivos quanto à diminuição dos sintomas da doença. Já no segundo grupo de ratos, para o qual foram administrados apenas fibroblastos, houve o desaparecimento dos sintomas e ao mesmo tempo o agravamento da doença. O terceiro grupo, submetido à mistura de células, não aparentou melhora, como se os fibroblastos tivessem anulado o efeito benéfico das células-tronco.

O trabalho demonstra as influências positivas do uso de células-tronco mesenquimais para tratar a doença de Parkinson. Também apresenta os resultados negativos que a contaminação por fibroblastos pode causar sobre os estudos que utilizam células-tronco.

Fibroblastos são células que produzem colágeno e formam a base do tecido conjuntivo de um adulto. As células-tronco mesenquimais tem a mesma origem – o mesênquima – porém são células que ainda não sofreram diferenciação e portanto ainda podem se especializar, por exemplo, em células epiteliais ou ósseas.

Segundo o coordenador do artigo Oswaldo Keith Okamoto, entrevistado pelo jornal Folha de São Paulo, é quase impossível distinguir os dois tipos celulares se simplesmente os examinarmos em um microscópio. Além disso, eles crescem in vitro em condições idênticas. A distinção só pode ser feita utilizando marcadores e ensaios específicos, o que justifica a dificuldade de diferenciá-las.

 

A busca pela cura

Ainda não existe cura para a doença de Parkinson. Por enquanto são tratados apenas os sintomas mais incômodos. Não existe um tratamento padrão eficiente, cada paciente possui uma combinação de drogas para tratar sintomas específicos.

Uma alternativa bastante conhecida é o uso do medicamento chamado levodopa que se converte em dopamina e repõe o seu nível. Outro tratamento, em casos mais graves, é a estimulação profunda do cérebro, conhecida como DBS (do inglês, deep brain stimulation). Esta última consiste em uma delicada cirurgia que insere no cérebro do paciente eletrodos que tentam melhorar as sinapses, locais onde um neurônio se comunica com outro.

Os resultados dos tratamentos com células-tronco mesenquimais não permitem dizer que ocorrerá a geração de novos neurônios e a reposição da produção de dopamina. Porém, as terapias tem o objetivo de melhorar o ambiente em que a doença atua, diminuindo a inflamação local e proporcionando a preservação das células nervosas.

13/05/2011
 

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