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Pesquisa encontra gene que regula recuperaçãoauditiva

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Cientistas esperam, no futuro, conseguir "desligar" gene para tratamentos de surdez

Um experimento publicado na edição de 13 de janeiro da Science Express, versão online da revista Science, pode ajudar a compreender melhor porque as pessoas perdem a sensibilidade auditiva com a idade, contribuindo para a elaboração de tratamentos que ajudem a recuperar o sentido em indivíduos que já não escutam perfeitamente.

O estudo, coordenado pelo pesquisador  Zheng Yi-Chen, da Escola de Medicina de Harvard , nos Estados Unidos, sugere que a deleção de um gene é capaz de reativar o crescimento de células capilares na orelha interna dos indivíduos. 

Após o desenvolvimento da orelha, estas células são impedidas de se multiplicar por causa de um "bloqueio" genético ativado ainda no desenvolvimento do embrião. 

Se os médicos forem capazes de "religar" esta multiplicação, talvez exista a possibilidade de reverter o processo degenerativo da audição das pessoas.

A perda de audição ocorre em função da diminuição progressiva do número de células ciliares na cóclea (estrutura responsável por transformar os sons em impulsos elétricos para enviar ao cérebro), que morrem em função da idade, de doenças e da ação de certas drogas. Quando expostas a ondas sonoras, estas células vibram, gerando impulsos elétricos que são depois decodificados em diferentes sons pelo cérebro. 

Normalmente, uma pessoa nasce com cerca de 50 mil células deste tipo, que não se reproduzem durante a vida. No entanto, a quantidade de células perdidas com a idade causa uma sensível diminuição na capacidade auditiva, chegando a afetar seriamente cerca de um terço da população acima de 70 anos. Esta é a causa mais comum de surdez em idosos. 
 
 
Investigação genética

A equipe de pesquisadores realizou um trabalho conjunto de monitoramento e aplicação dos conhecimentos adquiridos durante o estudo. Em Massachusetts, Yi-Chen e alguns colegas analisaram os padrões de expressão genética, ou seja, procuravam saber quais genes se expressam mais ativamente durante o desenvolvimento da orelha interna do embrião.

Eles perceberam que um dos genes ativos nesta fase, responsável pela produção do retinoblastoma, o chamado Rb1, também impedia permanentemente a regeneração das células capilares.

Enquanto isso, no Instituto Médico Tufts-New England, também nos Estados Unidos, Philip Hinds, co-autor do projeto, utilizava técnicas genéticas para desenvolver, em laboratório, ratos cujo gene do retinoblastoma era ausente.

Com isso, a equipe podia, ao mesmo tempo, analisar o desenvolvimento de embriões normais e, à partir das informações adquiridas, guiar os trabalhos de verificação dos resultados.

 
Trabalho de equipes

Assim, a equipe do Dr. Hinds pode observar que os ratos cujo gene Rb1 estava desativado corriam sempre em círculos. "Para um biólogo que estuda a área, um rato correndo em círculos imediatamente nos diz que existe algum tipo de problema com a orelha interna", diz o Dr. David Corey, do Instituto Médico Howard Hughes, nos EUA. 

O Dr. Chen e sua equipe, então, verificaram que o número de células ciliares ativas era maior nos ratos cujo gene Rb1 estava desativado, e estas células estavam proliferando-se continuamente. A equipe conseguiu constatar a funcionalidade das células adicionais, através de testes mecânicos, elétricos e com a utilização de substâncias fluorescentes.     Os pesquisadores puderam verificar que a desativação do gene Rb1 em células deste tipo adultas de ratos desativa também o bloqueio genético e o processo de proliferação recomeça.    "Este experimento demonstra que é a ação direta do gene Rb, e não alguns efeitos indiretos durante o desenvolvimento, que controlam a proliferação das células ciliares", disse o Dr. David Corey, da equipe de pesquisa de Harvard. "O Dr. Zheng descobriu que a deleção deste gene pode ativar a reprodução de células ciliares ativas. Elas já não são mais limitadas pelos controles de crescimento de antes", continuou.

"Este trabalho nos dá um conhecimento inestimável do controle deste mecanismo, que poderíamos utilizar até em aplicações clínicas de regeneração", completou o Dr. Corey. Segundo ele, as descobertas também tem importantes implicações na pesquisa. "Um obstáculo para o estudo destas células era exatamente a falta de material para estudo, já que não existem muitas na orelha interna". 

E concluiu: "Agora, podemos criar culturas inteiras para estudo".  Mesmo assim, o médico enfatizou a necessidade de maiores estudos sobre o tema: "Simplesmente ligar a divisão das células (desativando o gene Rb1) poderia gerar tumores dentro da orelha interna. Agora, o Dr. Zheng-Yi e sua equipe estão procurando modos de desativar o gene apenas para obter tempo suficiente para o crescimento capilar".

Em entrevista à BBC britânica, o chefe de pesquisas biomédicas da RNID, uma instituição britânica de auxílio a surdos, disse que as descobertas representam ótimas perspectivas para milhares de pessoas afetadas pela perda auditiva.    "A descoberta é um passo significante no caminho para uma cura. Mas ainda há muitos problemas a se resolver antes deste tipo de tratamento chegar às clínicas", disse.
 
 
21/01/2005
 

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