Segundo pesquisas veiculadas recentemente em toda a imprensa mundial, o aquecimento global decorrente do efeito estufa – conseqüência da alta emissão de gases poluentes praticada por inúmeros países do globo (em especial Estados Unidos, União Européia e China) – poderá se tornar irreversível dentro de apenas dez anos.
O tempo, que para muitos pode parecer aceitável, é na realidade alarmante: basta imaginar que daqui a oito anos ainda teremos, apenas nos países que fazem parte do protocolo de Quioto, noventa e cinco por cento das emissões que causaram o aquecimento que presenciamos hoje, isto se as determinações do acordo realmente forem cumpridas à risca.
Assim, caso uma das maiores iniciativas em curso de diminuição na emissão destes gases seja efetivamente levada a cabo (sem considerar os possíveis descumprimentos do protocolo), ainda não será possível verificar reduções efetivas nos chamados países em desenvolvimento, dos quais o Brasil faz parte, e nem mesmo do maior responsável mundial pela emissão de gases: os Estados Unidos, que ainda não assinam o protocolo de Quioto. Segundo especialistas, é impossível prever com certeza quais serão os efeitos causados pela concentração de gases e as mudanças que podem ocorrer na atmosfera e na temperatura média global, alterando os padrões de secas, inundações, freqüência de chuvas e até eventos naturais como tufões, furacões e outros fenômenos relacionados à atmosfera.
Com isso, populações inteiras poderão sofrer com as mudanças no clima global, o que poderá, em breve, levar regiões do planeta à escassez de chuva, água doce e até de alimentos, já que a agricultura e a produção mundial poderão ser afetadas diretamente pelos efeitos da atmosfera. As previsões Publicada na revista Nature, um estudo realizado por cientistas da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, que utilizou dados de mais de 95 mil usuários em mais de 150 países todo o planeta, revela que a situação do clima no planeta pode ser irreversível já para as próximas décadas.
Segundo a pesquisa, denominada Climatepredicition.net, a temperatura média do globo poderá subir em até 11ºC quando os níveis de gás carbônico na atmosfera chegarem ao dobro do que existia antes da revolução industrial, ou seja, cerca de 400 ppm (partes por milhão) de CO2. Atualmente temos cerca de 378 ppm de CO2 na atmosfera, e o índice sobe cerca de 2 ppm por ano.
“Acredito que esses resultados sugerem que é talvez mais urgente do que se pensa a necessidade de fazermos algo em relação às mudanças climáticas”, disse à BBC Britânica o cientista David Stainforth, um dos autores do estudo. “Entretanto, com o que sabemos hoje, não é possível definir um nível seguro de CO2 na atmosfera”, concluiu.
De acordo com Bob Spicer, professor da Open University, no Reino Unido, as temperaturas previstas pelo Climatepredicition.net são realmente chocantes. “Se olharmos para trás, no período Cretáceo, há 100 milhões de anos, as maiores estimativas giravam em torno de 6 graus acima do que existe hoje”, conta.
Para o pesquisador Myles Allen, que faz parte do projeto, “a zona de perigo não é algo que iremos alcançar dentro de alguns anos ou décadas, estamos nela neste momento”, alertou.
Força Tarefa Internacional
O estudo da Universidade de Stanford vêm à tona no mesmo período em que a Climate Change International Task Force (Força-Tarefa Internacional para Mudança do Clima), grupo cujo objetivo é alertar para os perigos das mudanças climáticas no planeta, divulgou dados importantes acerca do clima mundial. Segundo a força-tarefa, o chamado “ponto sem retorno” do clima deverá ocorrer quando a temperatura média mundial aumentar 2º C em relação aos dados verificados em 1750, antes da primeira Revolução Industrial. Até agora a temperatura já subiu 0,8 graus.
Este aumento, segundo as pesquisas realizadas pelo Climateprediction.net, é o mínimo que pode ocorrer em algumas décadas. Na pior das previsões, a temperatura mundial poderá subir até 11ºC. O relatório, intitulado “Aceitando o Desafio do Clima” foi divulgado agora em função do início da presidência britânica do G-8 e da União Européia. No texto, a Força-Tarefa pede aos países do G-8 que fechem um acordo para, até 2025, fazer com que 25% de toda a eletricidade consumida por estes países venha de fontes renováveis de energia. O meio-ambiente é uma das principais preocupações do governo de Tony Blair para os próximos anos.
Formada pelo Institute for Public Policy Research, em Londres, Inglaterra, pelo Center for American Progress, em Washington (EUA) e pelo Australia Institute, em Canberra, Austrália, desde o início do ano passado a Força-Tarefa Internacional vêm atuando com o objetivo de pressionar autoridades, empresários e líderes mundiais acerca dos perigos iminentes relacionados às mudanças climáticas.
Internet
Para processar a quantidade de dados necessários para prever o comportamento da atmosfera global, os pesquisadores do Climateprediction.net contaram com a ajuda de milhares de usuários da rede mundial de computadores.
Através do site oficial do projeto, os internaturas podiam baixar um programa especial. Desenvolvido pelos cientistas, o programa utilizava a capacidade de processamento do computador quando ele estava ocioso para receber, processar e enviar de volta os dados coletados pela equipe de Oxford.
O processo é muito confiável, e não prejudica o desempenho dos computadores, pois utiliza o tempo livre da máquina, como uma espécie de proteção de tela. O mesmo recurso já é utilizado em outros grandes projetos como o programa S.E.T.I.(sigla para “Search for Extra-Terrestrial Inteligence”), desenvolvido pelo governo norte-americano, que busca formas de vida extraterrestres.
Espécies Ameaçadas
As alterações no clima e na dinâmica da atmosfera global já começam a influenciar, também, a evolução das espécies. Pesquisas revelam que a elevação das temperaturas do globo na região do Equador já faz com que as espécies realizem migrações para locais mais afastados (em direção aos pólos) e mais altos em relação ao nível do mar. Além disso, períodos de acasalamento e postura de ovos já são observados antes do período natural.
O maior problema, no entanto, é a velocidade do aumento da temperatura, maior do que as espécies podem acompanhar, e os obstáculos construídos pelo homem. Segundo o estudo, as árvores serão as principais afetadas pelo processo, o que poderá levar à extinção de inúmeras espécies que dependem deste ecossistema.
Hoje em dia muitas espécies estão confinadas em reservas e parques cercados por cidades, estradas, plantações, pastagens e indústrias, que impedem o lento processo de migração. As árvores, em especial, precisam de sucessivas gerações para realizar sua jornada, mas na velocidade em que as mudanças estão ocorrendo, isto pode se tornar inviável.
Para conseguir avaliar o lento processo de migração, um pesquisador da Estação Marinha Hopkins, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, repetiu os mesmo passos de um inventário realizado há 70 anos atrás, comprovando que o deslocamento está realmente acontecendo.
Em Washington, pesquisadores do Centro de Ciências Aplicadas à Biodiversidade da Conservation International (CI) definiram estratégias de “corredores biológicos”, pelos quais as espécies poderiam migrar, e algumas medidas já começam a ser tomadas em ecossistemas mais críticos, como a Mata Atlântica, no Brasil.
08/02/2005
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