Logotipo Biotec AHG

Tamanho define transmissão de príons

Imprimir .

O crescente número de pessoas acometidas pelas doenças neurodegenerativas (doenças degenerativas do sistema nervoso central), tais como a Doença de Creutzfeldt – Jakob (DCJ) e o Alzheimer – a mais freqüente doença neurodegenerativa na espécie humana – tem elevado substancialmente a preocupação da população por esses males e consequentemente, a procura por profissionais para o diagnóstico precoce e tratamento.

Essa classe de doenças não atinge exclusivamente o ser humano, a exemplo da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), popularmente conhecida como “Doença da Vaca Louca”, caracterizada pela presença de vacúolos microscópicos e deposição de proteína amilóide (príon) na substância cinzenta do cérebro. 

Tanto no caso da DCJ, quanto na EEB, o agente causador dos distúrbios neurológicos é uma partícula protéica infecciosa (príon), que é uma proteína derivada da proteólise e redobramento de uma proteína cerebral normal. 

O estudo do papel dos príons no desenvolvimento dessas doenças vem sendo objeto de diversas pesquisas que tentam conhecer melhor os processos que levam à formação dessas proteínas. Em um estudo recente, pesquisadores da Universidade Brown, EUA, mostraram uma nova descoberta sobre essas moléculas. Os resultados podem ser encontrados no artigo publicado na edição do dia 29 de outubro da revista Science. 

Até o momento, o que se sabia é que os fatores necessários para desencadear o distúrbio nervoso e promover o desenvolvimento do quadro clínico são o enovelamento errado da proteína e a formação de agregados auto replicantes. No entanto, com esse estudo, os pesquisadores descobriram que há um outro fator ligado à progressão da doença. 

Ao serem formados dentro das células, esses agregados sofrem a ação de outras proteínas chamadas chaperonas (chaperoninas) que tentam rompê-los. Essa classe de proteínas é responsável por garantir a correta conformação de outros polipetídeos in vivo à medida que eles emergem do ribossomo, mas não é componente das estrutruras formadas. A ação das chaperonas pode causar diferentes conformações em um mesmo príon e em consequência disso, há uma forte alteração na propagação da doença e na incubação dessas partículas protéicas. 

O modelo de síntese do príon in vitro é utilizado para observar o mecanismo que dá origem à proteína de conformação alterada, mas não como se dá a interação desse mecanismo dentro da célula para a produção de moléculas transmissíveis. Para entender melhor o processo interativo, eles usaram o príon Sup35/[PSI+] da Saccharomyces cerevisiae e verificaram que a conformação da proteína foi o determinante para a distribuição dos diferentes tamanhos de agregados por meio das interações com as moléculas de chaperonas.

Juntamente com os experimentos com células, foram utilizados modelos matemáticos, o que permitiu aos pesquisadores descobrir que o tamanho das estruturas formadas é que afeta a capacidade de transmissão dos príons de uma célula para outra. Nesse contexto, eles perceberam que quanto maior o agregado, menor é o seu poder de transmissão. A pesquisadora do Centro de Biologia Molecular, Suzanne Sindi, foi a responsável pela construção dos modelos matemáticos, nos quais ela mostrou como as células sintetizam e espalham os agregados de príon, o que permitiu simular todo o processo. Os resultados mostraram que o melhor modelo para observar os experimentos, foi aquele em que o tamanho dos agregados era o fator essencial para a ocorrência de todo o mecanismo de transmissão.

Segundo um estudo recente, a capacidade de transmissão dos príons causadores de algumas doenças neurodegenerativas é determinada pelo tamanho dos agregados protéicos. A descoberta muda a teoria de que só o enovelamento errado das proteínas era suficiente para desencadear e alastrar a doença. 

05/11/2010
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

 © BIOTEC AHG 2023 - Todos os direitos reservados - São Paulo, Brasil.