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Controle de leishmania intracelular

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Um esforço conjunto entre cientistas brasileiros e de outros países pode resultar em uma vacina eficaz no combate à leishmaniose – doença causada por parasitas do gênero Leishmania (Leishmania brasiliensis, Leishmania major). Esse estudo, que foi liderado pela professora do Departamento de Biologia Celular e Molecular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP, Angela Kaysel Cruz, foi publicado na edição de outubro do The International Journal of Biochemistry & Cell Biology.

De acordo com a pesquisadora, em entrevista à Agência FAPESP, estudos anteriores mostraram que vacinas que usam apenas os fragmentos antigênicos do microrganismo, como forma de estimular a resposta do sistema imunológico, são ineficientes no combate ao parasita. Mediante esse fato, a equipe de cientistas está tentando desenvolver vacinas vivas (vírus vivo atenuado).

No recente estudo, foram analisadas alterações moleculares, bioquímicas e morfológicas em um parasita geneticamente modificado para atenuação da sua virulência, devido a superexpressão de genes contidos no SL RNA (spliced leader RNA). Pesquisas anteriores (2009) desenvolvidas pelo mesmo grupo, com L. major, mostraram que a superexpressão do arranjo dos SL RNA atenuou a virulência do parasita em ensaios  in vivo. Splicing é o processo que se dá durante a maturação do RNAm dos seres eucariontes, pelo qual ocorrem a remoção de íntrons e união dos éxons.

Segundo a pesquisadora, o estudo procurou conhecer qual o papel dos SL RNA na atenuação da virulência. Sendo assim, foi possível observar que a superexpressão dos SL RNA não tem efeito sobre a multiplicação da forma infecciosa flagelada do parasita (promastigotas), mas sim, parece impedir a multiplicação do parasita em sua forma intracelular (mastigota), que é aquela que se estabelece no homem e em outros mamíferos. Os cientistas acreditam que essa dificuldade de multiplicação dos promastigotas, possa estar vinculada a necessidade do parasita em manter o seu ambiente equilibrado (homeostase).

Mais especificamente, os pesquisadores procuraram entender as principais diferenças no proteoma – conjunto de todas as proteínas de um organismo – e perfis de expressão do transcrito entre o spliced leader RNA superexpresso e as linhas de controle. Para tanto, foram utilizados duas análises, o gel de eletroforese bidimensional e um DDRT-PCR (differential display reverse transcription PCR), respectivamente.

As análises mostraram padrões anormais de expressão em spliced leader RNA superexpressos em 39 genes que respondem a fatores como, estresse, formação do citoesqueleto, proteólise, controle do ciclo celular, proliferação, geração de energia, a transcrição genética, processamento de RNA e de regulação pós-transcricional. Observando as vias proteolíticas do parasita modificado geneticamente, foi possível constatar um aumento seletivo da atividade de protease da cisteína e um aumento do número de ubiquitinas marcadas.

Outros aspectos observados pelos cientistas foram a análise do perfil de polissomos – associação de ribossomos para intensificar a tradução de um RNAm – e a medição dos spliced leader RNA superexpressos. Essas análises mostraram que a tradução de proteínas nos SL RNA é maior, quando comparado com o controle.

Os dados obtidos no estudo levaram os pesquisadores a descobrir que os parasitas (L. major) na sua forma intracelular mantém a homeostase, quando em cultura, onde há um desequilíbrio metabólico a partir dos SL RNA e por meio da modulação da proteólise intracelular. Esse mecanismo poderá acarretar em uma interferência sobre o controle da expressão genética, a qual é necessária para a multiplicação desses parasitas no hospedeiro.

08/10/2010
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG