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Inseticida genético contra térmitas

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Anualmente, só nos EUA, as térmitas causam prejuízos da ordem de U$1 bilhão em danos estruturais, apesar de uma crescente gama de técnicas de controle contra o inseto. Nesta batalha, a nova arma tem como alvo os genes dessa praga e não causa danos ao ambiente, como acontece com muitos produtos químicos usados para o seu combate.

Em uma publicação recente, Michael Scharf, entomólogo da Universidade da Florida, juntamente com sua equipe, descreve os efeitos de uma mistura que, quando consumida por térmitas, faz com que elas fiquem deformadas durante o seu desenvolvimento. O agente ativo, neste “inseticida genético”, é o RNA. A equipe analisou parte do genoma da térmita e escolheu um gene-alvo, capaz de interromper o ciclo de vida do inseto. Para isso, conheceram a estrutura do RNA, com o objetivo de saberem como ele, associado ao gene específico, poderia ser silenciado.

O que acontece é que a maioria dos agentes químicos, para controlar insetos, tem como alvo o sistema nervoso destes organismos. Como já relatado em alguns trabalhos nesta área, é sabido que existe uma semelhança fisiológica entre vários gêneros de insetos, entre os quais estão as térmitas e muitas espécies benéficas à agricultura e ao ecossistema circundante. O uso excessivo desses produtos químicos tem gerado uma poluição ambiental generalizada, atingindo a fauna, a flora, os rios e os lençóis freáticos. Com as novas técnicas genéticas, esses efeitos secundários não acontecem, gerando um combate dirigido e limpo.

As técnicas de interferência de RNA, apesar de complexas, são cada vez mais usadas em instituições de pesquisa. Através delas, os pesquisadores silenciam genes-alvo e descobrem o que acontece ao organismo. Em linguagem simplificada, os especialistas “desenham” moléculas de ácido ribonucléico capazes de interferir, de modo específico, no mecanismo celular, silenciando o gene causador da enfermidade. O genoma envia instruções para a fabricação de proteínas do DNA, no núcleo da célula, para o mecanismo de síntese protéica, no citoplasma, através do chamado RNA mensageiro. O RNA de interferência destrói o mensageiro, impedindo a síntese de proteínas – o efeito, na prática, é semelhante ao “desligamento” do DNA.

Apesar da susceptibilidade de determinadas pragas à interferência do RNA, todo inseticida genético, para fins comerciais, necessita de uma ampla bateria de testes, retardando o acesso ao público. Por outro lado, os insetos tendem a desenvolver cada vez mais resistência às toxinas que afetam seu sistema nervoso. Isso torna o tratamento das térmitas e das outras pragas algo cada vez mais complexo, sendo ainda mais preocupante quando elas são ligadas à agricultura. A rotação de inseticidas na colheita é cara e, quando as pragas ganham resistência, os agricultores compensam, geralmente, usando mais toxinas, que podem, por sua vez, escoar para os lençóis freáticos, contaminando fontes importantes de água para consumo.

Para que os usuários usufruam futuramente desses inseticidas genéticos, muitos estudos ainda são necessários. E mesmo que os inseticidas genéticos sejam bem utilizados, há milhares de genes, no genoma de um inseto, que poderiam similarmente ser alvejados. No caso da térmita, há um forte interesse, do Departamento de Energia dos EUA, no seqüênciamento do genoma inteiro do inseto, tendo em vista que estas informações poderiam ajudar pesquisadores a encontrarem formas de quebrar componentes celulósicos e gerarem, com isto, biocombustíveis como o álcool. Assim, o mesmo trabalho que, um dia, colocou carros funcionando com combustíveis alternativos, poderá igualmente manter plantações e estruturas civis longe das térmitas.

  
07/08/2008
 

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