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Marcadores moleculares em prol do mercado forrageiro brasileiro

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O mercado de sementes forrageiras movimenta no Brasil, hoje, um montante de recursos semelhante ao movimentado pelo mercado de sementes de milho híbrido. Apesar disso, os investimentos em pesquisa básica destas espécies ainda é muito incipiente. No Brasil, o agronegócio da pecuária de corte depende significativamente de animais criados em pasto, o que representa uma vantagem competitiva em relação aos demais países produtores de carne, seja pelo menor custo, pela boa qualidade do produto ou, principalmente, pelo baixo risco de sérias enfermidades associadas, recentemente, à nutrição animal, como o mal da “vaca louca”. 

O cenário internacional de aumento na demanda por produto de qualidade e o registro de problemas de sanidade em países tradicionalmente exportadores possibilitaram ao Brasil sobressair-se como o segundo maior exportador mundial de carne bovina nos últimos anos. A perpetuação deste quadro, invariavelmente, depende do investimento em saúde e genética animais e, sobretudo, na melhoria do sistema de alimentação dos rebanhos. Deste modo, a continuidade e a ampliação do sucesso da pecuária brasileira dependem necessariamente do desenvolvimento de novas cultivares de forrageiras, visando garantir, em curto espaço de tempo, produtividade com equilíbrio ambiental. Gramíneas do gênero Brachiaria  e Panicum originárias da África do leste dominam o mercado forrageiro no País, porém outros gêneros latino-americanos, como as gramíneas Paspalum e as leguminosas como Stylosanthes  e Centrosema representam importantes contribuições às pastagens tropicais.

A pesquisadora da Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande, Letícia Jungmann, que é orientada em sua tese de doutorado pela Prof.a Dr.a Anete Pereira de Souza, da UNICAMP, falou com a BIOTEC AHG, e explicou um pouco do seu trabalho e da parceria da EMBRAPA e UNICAMP. Quando começamos a escrever o projeto, a idéia foi crescendo e outros centros da Embrapa foram envolvidos, frisou Letícia. Apesar de sua tese de doutorado compreender somente os estudos realizados com as espécies de Brachiaria, a pesquisadora participou diretamente da elaboração da proposta e do desenvolvimento dos marcadores moleculares para todas as demais espécies. A concretização da proposta só se tornou viável com o apoio de agências de fomento nacionais e estaduais. Estão envolvidos o CNPq e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que vêm financiando o projeto através de auxílios a pesquisa e bolsas de ICe DR e a Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul), com o financiamento de uma bolsa de doutorado.

O projeto é coordenado pela Dr.a Anete Pereira de Souza e envolve, ainda, outros pesquisadores da Embrapa, três alunos de doutorado e três de iniciação científica. O objetivo principal é o desenvolvimento de marcadores moleculares do tipo microssatélites para espécies forrageiras tropicais de grande importância para o Brasil: as gramíneas Brachiaria (B. brizantha, B. decumbens, B. dictyoneura, B. humidicola e B. ruziziensis), Panicum maximum e Paspalum (P.genoarum, P. atratum e P. regnelli) e as leguminosas Stylosanthes (S. capitata, S guianensis e S. macrocephala), Calopogonium mucunoides, Cajanus cajan (feijão guandu) e Centrosema pubescens.     Os microssatélites desenvolvidos serão utilizados em estudos genéticos destas espécies, incluindo avaliação da diversidade dos acessos disponíveis em bancos de germoplasma, filogenia e determinação da taxa de cruzamento. O que acho que é importante ressaltar, afirma Leticia, é que estamos trabalhando com espécies muito pouco estudadas e ainda não domesticadas, algumas delas nativas, para as quais poucos - ou nenhum - marcadores moleculares já foram desenvolvidos.    Tais estudos serão extremamente valiosos para os programas de melhoramento em andamento para estas espécies em diferentes centros de pesquisa no Brasil (Embrapa, Instituto Agronômico de Campinas - IAC, Instituto de Zootecnia-IZ e Universidades). Além da aplicação imediata dos resultados nos programas de melhoramento através da identificação de materiais divergentes a serem cruzados para produção de híbridos, discriminação de genótipos, e seleção assistida por marcadores, poderão ser realizados estudos básicos envolvendo a construção de mapas genéticos para as espécies, a identificação de genes de interesse agronômico e inúmeros estudos sobre variabilidade genética, estrutura populacional, fluxo gênico e sistema reprodutivo. Como a pesquisadora fez questão de sublinhar, os programas de melhoramentos destas espécies contam com pouquíssimas informações genéticas e, portanto, o avanço para a agropecuária será muito grande a partir do momento em que os resultados puderem ser incorporados a estes programas.

  
17/04/2007
 

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