Hibridação somática como alternativa no melhoramento do citros

Apesar de o Brasil ser considerado o maior produtor mundial de citros, com uma área plantada superior a um milhão de hectares, os pomares apresentam baixa produtividade (2 caixas por planta), causada principalmente pela ocorrência de problemas fitossanitários e pela ausência de um maior número de variedades copa e porta-enxerto, com características horticulturais desejáveis, incluindo a resistência a doenças. A Enxertia, Segundo o Glossário de Biotecnologia de 2005, editado pela Editora Folha de Viçosa é um procedimento usado para implantar um gene ou borbulha na haste de uma planta, ou unir duas estacas compatíveis após se fazer uma fenda na estaca que vai sustentar aquela que é introduzida. A variedade porta-enxerto protege a copa de doenças de solo, ou lhe confere maior vigor.

O desenvolvimento e a incorporação de novas biotecnologias a exemplo da transformação genética e a fusão de protoplastos em programas de melhoramento dos citros, auxiliam a pesquisa a superar as limitações encontradas no melhoramento tradicional e aproveitar a variabilidade genética disponível, para a obtenção de novas variedades. Segundo o mesmo glossário define-se protoplasto como uma célula vegetal ou fúngica desprovida de parede celular por ação enzimática.

A hibridação somática via fusão de protoplastos acarreta na produção de híbridos que poderão conter a carga genética de ambos os genitores, somando as características horticulturais desejáveis. Os métodos mais utilizados para induzir as fusões de protoplastos é a fusão química (polietilenoglicol). A hibridação somática tem vantagens sobre a hibridação sexual para o melhoramento de citros, pois permite combinar genitores com características complementares sem perda significativa do vigor, resultando possível expressão aditiva das características dominantes nos híbridos.

Híbridos somáticos potenciais são identificados com base na morfologia, e comprovados pela determinação do número de cromossomos e pela análise de DNA. Nestas avaliações, é esperado que híbridos somáticos alotetraplóides de citros tenham 36 cromossomos, sendo 18 cromossomos de cada um dos genitores diplóides. 

Alexandra Pavan, Mestranda do Programa de Fisiologia Vegetal explicou a BIOTEC que a Clorose Variegada dos Citros (CVC), um dos principais flagelos dos citricultores, foi identificada no Brasil em 1987, no Norte de São Paulo, e hoje atinge  a maioria dos cultivares comerciais de citros, estando presente em todas as regiões do Estado de São Paulo, com intensidades diferentes. A CVC, também conhecida como amarelinho, é causada pela bactéria Xylella fastidiosa que é transmitida e disseminada por cigarrinhas que, depois de instalada na planta, se multiplica e obstrui os vasos do xilema. 

A obstrução causa sintomas típicos, entre eles, a diminuição do tamanho dos frutos, tornando inviáveis para o consumo. Outro problema limitante para a citricultura nacional é o cancro cítrico, causado pela bactéria Xanthomonas axonopodis pv. Citr que foi introduzido no Brasil há mais de 40 anos, na região de Presidente Prudente (SP). 

Algumas das conseqüências da doença são quedas de folhas e frutos e diminuição de produção. O Greening também chamado de huanglongbing (HBL) é outra doença de grande impacto destrutivo. O agente causal é uma bactéria com crescimento limitado aos vasos floema, chamada provisoriamente Candidatus Liberibacter americanus. Não existe nenhuma variedade de copa ou porta-enxerto resistente à doença.  

A obtenção de variedades melhoradas quanto à tolerância a problemas fitossanitários auxiliaria no desenvolvimento da citricultura, entretanto, existem dificuldades para os programas de melhoramento para obtenção destas variedades devido a aspectos da biologia reprodutiva do gênero Citrus, tais como, o longo período de juvenilidade, a presença de embriões nucelares (poliembrionia), incompatibilidade e esterilidade sexual, alta heterozigose, além do pouco conhecimento sobre a herança de muitas características de interesse agronômico.

A técnica de fusão de protoplastos tem sido utilizada para a produção de muitos híbridos somáticos de citros com potencial para o melhoramento de variedades tanto para copa quanto para porta-enxerto. No laboratório de Biotecnologia de Plantas Hortícolas da ESALQ/USP, coordenado pelo Professor Francisco de Assis Alves Mourão Filho, vem sendo realizadas pesquisas com a hibridação somática de citros, tendo sido obtidos híbridos que no momento estão sendo avaliados para a resistência a doenças. 

Estas pesquisas também contam com o apoio da equipe do Laboratório de Biotecnologia Vegetal do CENA sob a liderança da Profa. Beatriz Madalena Januzzi Mendes. As investigações a serem realizadas a seguir podem indicar novos cultivares a serem utilizados diretamente como cultivares copa ou potenciais parentais resistentes a doenças importantes a serem utilizados em programas de melhoramento.

  

02/07/2006