A bioeconomia e seus impactos |
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Temas como mudanças climáticas, segurança alimentar, uso de biocombustíveis em detrimento dos combustíveis fósseis, preservação da natureza, uso consciente do solo, gases de efeitos estufa, economia de baixo carbono, entre outros, têm sido pauta recorrente em diversos segmentos da sociedade em todo o mundo. Interessados em buscar soluções para esses e tantos outros desafios, alguns países se uniram para tentar encontrar caminhos viáveis para desenvolver um novo segmento da economia, conhecido como Bioeconomia, no qual o Brasil tem tido grande destaque, principalmente no setor agropecuário. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI, 2013, p. 6), a bioeconomia, economia de base biológica, “surge como resultado de uma revolução de inovações na área das ciências biológicas. Está relacionada à invenção, desenvolvimento e uso de produtos e processos biológicos nas áreas da biotecnologia industrial, da saúde humana e da produtividade agrícola e pecuária”. Segundo a Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), apud PEREIRA (2020), ela pode ser definida como toda a cadeia de valor que é orientada pelo conhecimento científico avançado e a busca por inovações tecnológicas na aplicação de recursos biológicos e renováveis, em processos industriais para gerar atividade econômica circular e benefício social e ambiental coletivo. De acordo com um estudo recente (2023) realizado por um grupo que reuniu a Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI ), a Embrapa Agroenergia, o Laboratório Nacional de Biorrenováveis do Centro de Pesquisa em Energia e Materiais (LNBR/CNPEM ), o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai/CETIQT ) e o Laboratório Cenergia pertencente à Universidade Federal do Rio de Janeiro, além dos benefícios ambientais e sociais, a bioeconomia pode gerar faturamentos anuais de até 284 bilhões de dólares. No estudo, intitulado “Potencial do impacto da bioeconomia para a descarbonização do Brasil”, que levou em consideração diferentes trajetórias para o Brasil até 2050, foram analisados três cenários potenciais da bioeconomia no contexto da transição energética, considerando as políticas nacionais de mitigação de gases de efeito estufa (GEE), a consolidação da biomassa como principal matriz energética e a adoção intensificada de tecnologias biorrenováveis. A partir dos três cenários, de Políticas Correntes, Abaixo de 2°C e o Potencial da Bioeconomia. Para isso, foi levada em consideração a relevância da biotecnologia, no que diz respeito aos múltiplos usos da biomassa, seja como fonte energética, de alimentos e de outros materiais, usando como referência a transição energética e a necessidade de desenvolvimento da bioeconomia. De acordo com o estudo, no cenário Políticas Correntes, as fontes fósseis representarão 62% da oferta de energia primária em 2050 e o Brasil aumentará suas emissões anuais de GEE em mais de 20% no período entre 2010 e 2050. Segundo o cenário Abaixo de 2°C, o estudo considera a biomassa como principal fonte de energia primária (76%) para a implementação de tecnologias de baixo carbono nos principais setores da economia brasileira, em consonância com as determinações do Acordo de Paris, no intuito de limitar o aumento de temperatura, “bem abaixo dos 2ºC”, até o final do século e a representatividade da biomassa em 76% como fonte de energia primária. No terceiro cenário, Potencial da Bioeconomia, considerado pelos autores como fundamental para o estudo, faz uma avaliação de complementariedade entre a bioeconomia e a transição energética, com inserção das tecnologias associadas ao segundo cenário. Em entrevista ao portal da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o chefe geral da EMBRAPA AGROENERGIA, Alexandre Alonso, comentou que “O estudo quantifica a bioeconomia em cenários de transição energética e avalia como as tecnologias geradas pela chamada economia circular e de baixo carbono podem complementar a transição energética dentro das cadeias produtivas”. Segundo Alonso, o intuito é desenvolver processos mais produtivos e eficientes, porém menos intensivos, considerando insumos e energia. Os conceitos da bioeconomia podem ser aplicados a diversos setores produtivos, porém este estudo concentrou-se no setor agro e teve como uma das principais contribuições a busca por soluções que impactem no aumento da produtividade na agricultura, que possibilitem a liberação de áreas que possam ser reaproveitadas por culturas energéticas e que reduzam as emissões de GEE durante o processo produtivo. O foco da pesquisa foi buscar inovações de base biológica, associadas às indústrias já estabelecidas ou em desenvolvimento, para tentar estimar valores de investimentos e de receita em setores que apresentem maior capacidade de mitigação dos GEE. O grupo de pesquisadores avaliou também diversas outras tecnologias, sendo essas ligadas mais diretamente ao setor do agronegócio, tais como a obtenção de proteínas alternativas, fixação de carbono no solo, conversão de biomassa em produtos de base energética entre outras. Apesar de a bioeconomia ser uma realidade no Brasil, com diversas ações em andamento, percebe-se a necessidade de maior integração e coordenação, entre os diversos setores interessados, buscando definir prioridades, capacidades e desafios, a fim de estarem aptos para que, no momento da definição de uma agenda para o País, seja possível aproveitar ao máximo todo o seu potencial, acelerando assim os benefícios nos setores ambiental, social e econômico.
16/02/2023
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG |
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