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Resíduos agroindustriais viram plástico

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O setor da agroindústria brasileira da fibra vegetal produz uma grande quantidade de resíduos, constituindo uma importante fonte de matéria-prima. Esses recursos são abundantes e disponíveis para a reciclagem, além de representarem uma estratégia para o reaproveitamento de resíduos.

A Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), Botucatu, na pessoa do professor Alcides Lopes Leão está inovando no quesito, uso de resíduos agroindustriais, derivados principalmente de cultivares como a banana, a casca de coco, o sisal, a madeira, os resíduos da fabricação de celulose, as fibras naturais, o curauá (Ananas erectifolius), entre outros.

O objetivo da pesquisa, que já vêm sendo desenvolvida desde a década de 90, é o de conhecer as características das fibras desses materiais, com a finalidade de produzir sacolas plásticas, com maior resistência, porém mais leves e com a vantagem de serem biodegradáveis.

Por meio de testes em escala nanométrica, realizados nos últimos dois anos, os  pesquisadores constataram que as fibras apresentam resistência similar às fibras de carbono e de vidro, sendo possível dessa forma, utilizá-las como matérias-primas para a fabricação de plásticos, em substituição aos outros tipos.

Em entrevista à Agência Fapesp, Lopes Leão revelou que as propriedades mecânicas dessas fibras em escala nanométrica aumentam enormemente e que a peça feita com esse tipo de material se torna 30 vezes mais leve e é entre três e quatro vezes mais resistente.

Para observar as características do produto final, os cientistas realizaram alguns testes, um deles, em acordo com a Braskem – petroquímica produtora de polipropileno – foi adicionado 0,2% de nanofibra ao polipropileno, resultando em um produto cinquenta por cento mais resistente. Num outro experimento, foram feitos ensaios com plástico injetável utilizado na fabricação de pára-choques, painéis internos e laterais, além do protetor de cárter de automóveis. Nesse caso, foi adicionado entre 0,2% e 1,2% de nanofibras, resultando em peças mais resistentes e mais leves, quando comparadas com as encontradas no mercado atualmente.

De acordo com o pesquisador da Unesp, a troca da fibra de vidro pela nanocelulose, realizada nas peças à base de polipropileno, utilizadas pela indústria automobilística, resultou em uma melhora das propriedades das peças. O uso das nanofibras propiciou também o aumento na segurança, redução do peso do veículo e maior economia de combustível, além do acréscimo na resistência a danos causados pelo calor e por derramamento de líquidos, como a gasolina.

Outros dois projetos estão sendo desenvolvidos para o uso das nanofibras, um em parceria Faculdade de Odontologia da Unesp de Araraquara, para substituição do titânio usado na fabricação de pinos metálicos para implantes dentário, e outro com a  Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp de Botucatu, utilizando as nanofibras para desenvolver membranas de celulose bacteriana vegetal. Os testes de biocompatibilidade in vivo em ratos mostraram um excelente resultado na sobrevivência dos animais por seis meses com o material.

 

Projetos futuros

Outros estudos estão sendo desenvolvidos pelos pesquisadores da Unesp, tais como o uso das fibras naturais para desenvolver compósitos – materiais que possuem pelo menos dois componentes ou duas fases, com propriedades físicas e químicas nitidamente distintas, em sua composição – reforçados e para tratamento de águas poluídas por óleo. 

O pesquisador revelou também algumas espécies como o abacaxi, em que suas fibras são mais resistentes à fabricação de bioplásticos. Uma grande promessa de sucesso é o lodo de celulose de papel, material proveniente das indústrias e altamente poluente.

Esses resultados obtidos até o momento são bastante promissores, garantindo a possibilidade de reciclagem de diferentes tipos de resíduos da agroindústria, o que refletirá, não só na questão ambiental, mas também na diminuição dos custos de vários processos produtivos.

15/04/2011
Arlei Maturano - Equipe Biotec AHG
 

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